domingo, 9 de agosto de 2015

Eu não vi o além

O que poderia dizer?! Como deveria agradecer?! Quase morri atropelada hoje de manhã, mas morri muito mais mentalmente do que fisicamente. O que é se lanhar perto da dor mental de quase morrer?! Ao contrário do que as pessoas falam, quase morrer é uma experiência a longo prazo, na hora você não entende nada e só se preocupa com a criança no banco da frente que não pára de berrar. Não conferi os estragos físicos, minha mente trabalhava a mil por hora. Queria arrancar aquela criança dali e abraçá-la para que a morte mental dela fosse superada no dia seguinte depois de um jantar preparado pela mãe. Mas minha prima me agarrou depois que, por instinto, dei um passo para frente e por um instante me senti completamente paralisada. Consigo sentir todos os nervos da minha face congelados como no instante em que senti as peças do carro voando pelas minhas pernas, meus pés se moviam muito lentamente perto do turbilhão que era minha mente. Agi pelo que chamamos de instinto.  
Não existe um filme passando na sua cabeça. Jesus não me estendeu a mão e o único clarão que eu vi foi do sol ardendo na pele. Mas o desespero dos meus tímpanos e pupilas toda vez que aquela criança berrava me desalinhou. Me vi ensanguentada correndo com uma menina linda de uns 6 anos nos braços. Ela só sabia chorar e repetir ‘’eu avisei, papai, eu avisei’’. Até então tudo foi no automático: cadê o celular, preciso colocar essa menina em algum lugar seguro, 190 ‘’alô, tô na rua x altura do número y e acabei de presenciar um acidente. Uma criança com fortes dores do abdômen. Ah, a polícia não vai até o local quando não há morte ou ferido?’’, você tá bem, perguntei, choro, precisa de algo, tentei contato de novo, eu fui dar um beijo no meu vô e meu pai tava digitando no celular, eu pedi pra ele parar... A minha cabeça girou, finalmente senti os estilhaços pela perna. Dei meia volta e entendi que eu poderia estar morta. Olhei para o cilindro cinza e alto que não deixou o carro me pegar. Era um poste. O mesmo poste que me dá abrigo do sol todo dia na esquina de casa.  

Sobre a fragilidade de uma vida, de dois seres, de uma conexão divina. Não era para ser, simples. Mas a morte mental continuará se mostrando mais viva a cada instante de vida gasto. Morte a longo prazo, porque a vida é breve.

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